quinta-feira, setembro 02, 2004

Apelo a Santana Lopes para que "dê ordem para que o barco possa atracar em Portugal"

"O secretário-geral da Juventude Socialista, Pedro Nuno Santos, anunciou hoje que esta estrutura partidária vai ceder um barco para transportar as mulheres portuguesas que queiram visitar o navio da associação holandesa Women on Waves. A JS apela "ao primeiro-ministro para que revele bom senso e tolerância e dê ordem para que o barco possa atracar em Portugal".

Durante uma conferência de imprensa realizada em alto mar, a poucos metros do navio holandês, Pedro Nuno Santos contestou a proibição do Governo português à entrada da embarcação da Women on Waves e prometeu apoiar as mulheres que queiram subir a bordo do barco.

Nos próximos dias, a JS vai "disponibilizar uma embarcação para que as mulheres que queiram visitar o barco possam fazê-lo", de modo a contrariar o "conservadorismo obscurantista que a direita quer autoritariamente impor ao país".

A viagem de hoje, que integrou elementos da JS e vários jornalistas, não teve êxito na tentativa de chegar ao barco holandês, devido à forte ondulação que se verificava.

Na conferência de imprensa, Pedro Nuno Santos criticou a "decisão intolerante e autoritária tomada pelo Governo português", que se baseia numa "fundamentação jurídica muito frágil" que "pretende dificultar o debate sobre a situação triste vivida pelas mulheres em Portugal". Recordando que a coligação PSD/CDS-PP já havia recusado uma proposta de um novo referendo sobre a matéria, o líder dos jovens socialistas considerou que "o Governo está a ter um comportamento irresponsável, insensível e intolerante".

A JS acusou ainda a JSD de se estar a deixar "arrastar pelo fanatismo do PP". "É inadmissível que as autoridades do nosso país impeçam o barco da Women on Waves de atracar na nossa costa, como se fosse uma qualquer embarcação que transporta resíduos tóxicos e perigosos e como se Portugal fosse um país isolado e fechado ao mundo".

O líder da JS exigiu que o "Governo português cumpra a legislação sobre educação sexual em meio escolar e que promova a instalação de máquinas com preservativos nas escolas", bem como a realização de um novo referendo sobre esta matéria.

Aquando da aproximação do barco português ao navio holandês, Pedro Nuno Santos revelou que o momento era "constrangedor, porque o país obriga o barco a estar tão longe da costa", como se nesse se encontrasse "um grupo de criminosos". Para o secretário-geral da JS, também a vigilância do navio holandês pela corveta "Batista de Andrade" é "incompreensível e exagerada".

Na breve troca de palavras com as activistas, o líder da JS pediu "desculpa por esta situação, que é uma vergonha para Portugal". Sobre novas acções da JS, Pedro Nuno Santos revelou que está a ser desencadeada uma estratégia de "pressão" junto de outras instituições da sociedade civil para que o "Governo recue na sua decisão".

"Parecemos um país de Terceiro Mundo, parecemos a Coreia do Norte", desabafou o responsável da Juventude Socialista, que pagou cerca de 1500 euros pela viagem de barco com uma comitiva de jornalistas portugueses."

no Público 31-08-2004