quinta-feira, março 16, 2006

Paris...

Os estudantes franceses deixaram ontem a luz da ribalta aos políticos, num dia em que tiravam as lições da mobilização do movimento de greve nas universidades e nos liceus verificada na véspera e em que acabavam também os preparativos para a grande manifestação de hoje, na capital.

Depois da violência que marcou o cortejo de Paris, na terça-feira, o grande receio dos grevistas é o de não conseguirem impedir a presença de elementos vindos unicamente para provocar distúrbios ou até para roubar lojas, como já aconteceu em anos anteriores.

A maneira como decorrer hoje o desfile de Paris será determinante para a grande manifestação de sábado - um desfile a que se juntarão os sindicatos e que, por isso, servirá de barómetro às relações de força na batalha para a anulação do CPE (contrato primeiro emprego), uma nova lei que autoriza as empresas a despedirem um empregado de menos de 26 anos a qualquer momento dos dois primeiros anos de trabalho, sem justificação. Até agora, Dominique de Villepin manteve uma posição de firmeza que exclui qualquer recuo na aplicação do CPE, mas propondo negociar certos aspectos secundários da lei.

Em conselho de ministros, o Presidente da República, Jacques Chirac, saudou ontem a "vontade do primeiro-ministro de abrir o diálogo social e de melhorar o que pode ser melhorado" na lei do CPE. O pequeno recado nas palavras de Jacques Chirac - que ainda na véspera manifestara um apoio incondicional ao chefe do governo - leva alguns comentadores em Paris a darem o primeiro-ministro, muito isolado nesta batalha, por morto e enterrado politicamente, pelo menos no que toca às suas ambições presidenciais.

Por seu lado, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, grande rival de Villepin para a corrida ao Eliseu nas eleições de 2007, não esconde alguma inquietação de ser arrastado ou, pelo menos, afectado, por uma eventual queda de Villepin. "Para além das tradicionais manipulações de extrema-esquerda deste tipo de movimento, há um real divórcio entre a juventude deste país e o governo. É preciso ver agora se este problema da credibilidade do governo também me engloba", repete (segundo a imprensa gaulesa) aos seus conselheiros o político mais popular da direita francesa. Ao receber ontem os responsáveis pelo serviço de ordem dos sindicatos de estudantes que organizam hoje a manifestação nacional, Sarkozy cuidou assim do seu futuro, garantindo-lhes: "Estarei sempre à vossa escuta."

www.publico.clix.pt