quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Mercado e Shopping

Na sociedade portuguesa e tomarense em particular existe um claro conflito entre o pensamento e os interesses das diversas gerações. É natural, fazendo tal facto parte de toda a evolução histórica das sociedades ao longo dos tempos, sendo por isso necessárias políticas de complementaridade entre os vários interesses, afinal de contas somos todos cidadãos com o mesmo conjunto de direitos e deveres.

Muito tem já sido discutido sobre o novo Plano de Pormenor do Flecheiro e Mercado, muitas são as críticas ao projecto camarário e poucos os elogios ouvidos. É esse conjunto de opiniões expressas que os agentes políticos locais são obrigados a analisar, ouvindo os interesses de toda a população e não apenas da parte que se julga "iluminada" e dona da razão dos interesses concelhios.

No contexto do século 21 é importante Tomar ter um bom mercado. Um mercado forte e aglutinador da população de todo o concelho e porque não, como no passado de toda uma região. Todos compreendemos (exceptuando o executivo PSD), sem grandes abordagens sociológicas a importância crucial que o mercado simboliza para um conjunto muito alargado da população do concelho. Será que podemos construir um verdadeiro desenvolvimento social e económico sem compreender as necessidades de uma parte significativa da população? Pessoalmente, não me parece o caminho ideal.

Desta forma compete ao executivo PSD dotar o mercado das condições de dignidade necessárias, olhando para ele como um local simbólico de venda e convívio social. A "destruição lenta" que se apodera diariamente do Mercado Municipal exige renovação e não destruição, já que a política de "terra queimada" provou em casos como o parque de campismo não ser a solução. Destruir sem alternativas credíveis não é o caminho. Contundo, sei que para o executivo PSD a maioria dos frequentadores do mercado não interessam no seu projecto de construir a "Terra dos Sonhos" onde só alguns têm lugar nas suas concepções de megalomania, sendo os restantes meros agentes de dar votos, nem que seja em grandes passeios ferroviários.
Em conjunto com o mercado outra questão se coloca, o Centro Comercial de Tomar. Assunto que não deve ser confundido e não tem sido nas diversas propostas do Partido Socialista que ao contrário de outras forças compreende os interesses dos diversos grupos da população do concelho de Tomar, acreditando que a sociedade não parou na década de 1980. Acredito pessoalmente e por saber onde os muitos tomarenses param ao fim-de-semana que um "shopping" possa ser importante e vir de encontro às necessidades e anseios de uma parte da população. Contudo, o local não deve ser o centro da cidade e muito menos destruindo o mercado e desprotegendo ainda mais os comerciantes, em vez de no centro histórico se propiciar um autêntico "Centro Comercial de Ar Livre", ajudando e dinamizando o comércio já existente. Desta forma a solução de Marmelais para a construção de um "shopping" ganha todo o sentido, seguindo o modelo de outras cidades, não hipotecando o mercado e os comerciantes da zona histórica.

Pelo já dito, acredito na complementaridade dos diversos agentes económicos, contudo não posso de forma nenhuma aceitar que para construir algo que pode ser megalómano e correr mal se destrua o mercado com toda a importância social, económica e turística que lhe é reconhecida. Não aceito desenvolvimento esquecendo parte da população, mas sei que a modernidade e uma sociedade cada vez mais cosmopolita obriga a mudanças de paradigma, mas nunca destruindo o passado, acelerando rumo ao futuro com ele e toda a população.

Hugo Costa - Artigo Publicado no Jornal Templario