terça-feira, fevereiro 01, 2005

Desemprego Laranja

publicado no jornal Templário de 20.01.05

Não é preciso ser um profundo conhecedor da realidade social, para sentir e saber que em todo o país e na nossa cidade um dos principais problemas é a falta de oportunidades de emprego. Sente-se esse medo quando estamos no café, no jardim, na rua ou em qualquer outra conversa, seja ele entre jovens ou menos jovens.
Como finalista universitário, sinto esse problema na pele, com receio de aumentar o número dos “doutores e engenheiros” recentemente formados e esquecidos pela nossa sociedade, que não lhes dá as mesmas oportunidades que eram dadas aos licenciados no passado. Esses jovens depois de anos consecutivos de trabalho, dedicação pessoal e da sua família, são muitas vezes obrigados, para não estarem eternamente sentados no “banco do desemprego” a aceitar trabalhos muito longe da sua formação, abdicando assim de sonhos que os fizeram lutar durante anos. Mas, contrariando muitos mitos sem fundamento que muita gente tenta espalhar na sociedade, a procura do primeiro emprego, para os jovens com menos formação é um martírio de difícil saída, já que a formação profissional é completamente inexistente e esses jovens são largados para o esquecimento. Os problemas para encontrar o seu primeiro emprego são largamente aumentados no concelho de Tomar, onde o apoio à fixação de empresas e ao empreededorismo têm sido quase nulos por parte da autarquia, fazendo com que os jovens deixem o concelho.
Como é do conhecimento geral, nem só de jovens se enchem as nossas estatísticas de desemprego, para não falar que mesmo essas estatísticas não correspondem a uma total verdade, devido às diversas formas de contornar e modificar os índices de desemprego, que os economistas tem trazido para a política. Todos sabemos que o desemprego é implacável em qualquer idade, sendo particularmente preocupante a situação dos trabalhadores que são privados dos seus empregos de décadas, já sem idade para voltar a ser integrados no mercado de trabalho e muito jovens para a reforma. Esta situação acarreta consequências gravíssimas a nível social, muitas vezes perpetuando o “ciclo vicioso da pobreza” através das poucas oportunidades que são dadas aos seus filhos. Todos os Tomarenses conhecem esta situação, em especial devido à falência da antiga indústria existente no concelho, em que muitas famílias foram atiradas para situações sociais muito complicadas, que passado alguns anos ainda estão por resolver.
Ao longo da História o desemprego tem tido uma multiplicidade de visões, dependendo muito de por quem é analisado. Muitos economistas têm uma visão “cínica” do desemprego, fazendo dele uma mera consequência do combate à inflação ou como um simples dano colateral, de uma qualquer política de ajustamento estrutural. Eu pessoalmente prefiro uma visão social do problema, compreendendo que os desempregados e suas famílias estão em situações sociais muito complicadas. Que esperam os jovens à procura do primeiro emprego? Que esperam os milhares de desempregados de longa duração? De certeza que não querem ser vistos apenas como mais um número, mas sim como um problema duro e de urgente resolução.
Várias são as políticas de emprego necessárias, que não têm sido praticadas, tanto a nível nacional como local. E ao nível destas políticas, existe uma clara distinção entre uma política de esquerda com visão social dos problemas e uma política de direita, apenas preocupada com a frieza dos números. Acho que todos já se aperceberam dessa distinção e da falsidade que é a afirmação que não existem actualmente diferenças entre esquerda e direita, afirmação essa contestada por cientista políticos tão conhecidos, como o recentemente falecido Noberto Bobbio. Mas essa esquerda tem de ser uma esquerda que possa governar e assim exercer as suas políticas e não apenas uma esquerda contestatária e de revolta.
Existe a nível nacional, uma clara necessidade de políticas que aumentem o número de investimentos no país, apoiem o empreededorismo e a não deslocalização das empresas existentes, sendo que aí o choque tecnológico proposto pelo Partido Socialista, faz todo o sentido e é uma das soluções do problema. Mas ao mesmo tempo, tem de se garantir uma política social activa, onde se combata as assimetrias sociais através de uma melhor formação profissional, da luta contra o abandono escolar, a garantia de boas condições de trabalho, o aumento dos salários reais e uma preocupação clara de estado de providência para com os trabalhadores desempregados e suas famílias, não permitindo desigualdade de oportunidades.
O que tem sido feito para alterar a situação? Nos últimos anos Portugal foi perdendo os excelentes indicadores deixados pelo governo socialista a nível de emprego, sendo que o aumento de 200 mil desempregados, representa mais 200 mil histórias diferentes de sofrimento e perca de condições de vida deixadas pelo governo PSD-PP, nas últimos anos. A falta de uma boa política nacional de emprego, foi ainda agravada pela inércia que a este nível (e a muitos outros), marcou a política autárquica em Tomar. Agora fala-se do biodiesel... pena é que só se fale nisso em altura de eleições.
A situação é muito complicada e todos os tomarenses conhecem situações de desemprego que afectem familiares e amigos, e no próximo dia 20 de Fevereiro terão oportunidade de voltar a acreditar e começar a mudar o rumo das coisas.

Hugo Costa