Pedro Nuno Santos, 28 anos, secretário-geral da Juventude Socialista (JS), voltou há dias a ser notícia pela mesma razão que faz sempre um líder de uma "jota" ser notícia: apresentou uma proposta "fracturante". Em nome da organização que lidera desde 2004, anunciou no início de Fevereiro um projecto de lei para tornar possível o casamento entre homossexuais.Com um esforço de memória, podem lembrar-se as duas vezes anteriores em que o nome do líder da JS apareceu nas notícias: como animador do apoio jovem à campanha presidencial de Mário Soares e, uns meses antes, como activista pelo sim à despenalização do aborto- outra questão "fracturante"... Estará a juventude partidária do partido no poder "condenada" a animar campanhas eleitorais e a debater temas como o aborto, o casamento de homossexuais, as uniões de facto ou a política de toxicodependência?A resposta de Pedro Nuno Santos é 'Não, mas...'. Não, porque a JS se tem batido por muitas outras questões e tem na sua agenda, entre outras, propostas relativas aos problemas da educação, habitação, emprego ou empreendedorismo jovem (ver caixa). Mas... "o Governo tem o seu programa, no qual todos estes temas estão tratados, e a sua própria agenda". Nestes casos, o papel da JS é relativamente discreto: "Fazer o possível para que o que é aprovado pelo Governo tenha a nossa marca", ou seja, "influenciar, pressionar" e, se for caso disso, "exigir" aos governantes que tenham em atenção os pontos de vista da "jota". "Se aparecermos a criticar o Governo, temos páginas inteiras de jornais", reconhece Pedro Nuno, lembrando que já o fizeram, por exemplo, quando o Executivo manifestou a intenção de reduzir o tempo de subsídio de desemprego para jovens. No entanto, a margem de manobra é limitada, reconhece o dirigente juvenil. Bom exemplo disso é o "grupo parlamentar" da JS - os jovens socialistas têm nove representantes no Parlamento, mas todos foram eleitos nas listas do PS. Conclusão: "Vivemos numa situação de ter que procurar um equilíbrio permanente, pois assumimos compromissos enquanto JS, mas fomos eleitos nas listas e com o programa do PS. E é sempre o programa do PS que prevalece."O caso do casamento entre homossexuais foi paradigmático. A JS apresentou a iniciativa com alguma urgência, em boa parte imposta pelo mediatismo da tentativa de casamento de duas lésbicas e pelo anúncio do Bloco de Esquerda de que avançaria com uma iniciativa legislativa sobre este assunto. Duas semanas depois, Pedro Nuno divulgava, não um projecto, mas um anteprojecto de lei. Perante a intransigência do PS, que não quis debater já este assunto, a proposta não irá a votos este ano, mas serve apenas para "lançar a discussão na sociedade portuguesa e no interior do partido" sobre o casamento de homossexuais. Pelo meio, o líder da JS ainda se viu a braços com a rebelião de seis dos seus nove deputados, que contestaram o timing e o modo como a proposta foi lançada, insinuando que Pedro Nuno apenas procurava protagonismo.
O jovem economista de Aveiro rebate as acusações, mas reconhece que é nestes temas que pode ganhar visibilidade. "Não somos Governo, não definimos prioridades nacionais, mas podemos marcar a agenda política nos temas em que o PS não tem posição, nas áreas que não estão ocupadas pelo programa eleitoral", explica. Um "espaço civilizacional", que vai do aborto aos casamentos gay, passando pela prostituição, eutanásia ou drogas. "Temos a obrigação de pôr a sociedade portuguesa a discutir estes temas", que fazem parte do manifesto apresentado pela organização nas últimas eleições legislativas.Não será apenas a tentação dos temas fracturantes, afinal, uma receita de sucesso garantido? "Não é tentação, é coragem", responde o líder da JS, dando o exemplo da regulamentação da prostituição: "As pessoas preferem passar ao lado, mas nós temos que dizer que não há tema que seja tabu." Se lhe lembram que esses assuntos talvez não sejam os que mais preocupam um jovem comum, Pedro Nuno responde com uma frase ensaiada: "A JS não é uma organização que faz política para jovens, é uma organização de jovens a fazer política.