quinta-feira, novembro 29, 2007

A ESTUPIDEZ DE UM RANKING

Algures durante o Outono e na procura desenfreada de factos sensacionalistas, é notícia um pouco por todo lado uma das maiores vergonhas que são noticiadas sazonalmente, os "rankings" das Escolas Secundárias do país.
Muitos ao ler este artigo vão dizer que eu não sou especialista em Educação, dessa forma não sei o que digo. Mas talvez por estar desligado do sector e ainda não ter deixado a condição de aluno há assim tantos anos, poderei manifestar com mais independência o sentimento de vergonha que sinto ao ler esses "rankings" que foram inventados única e exclusivamente para alimentar algum tipo de Ensino Privado e preocupar os pais.
Acredito num sistema de Ensino Público como principal arma de combate à exclusão e desigualdade social e não como um mero mecanismo multiplicador dessa mesma desigualdade. Muitos vão dizer que é uma visão de Esquerda a que tenho, mas ainda bem, não tenho vergonha das concepções ideológicas pelas quais me bato. Felizmente que este governo partilha a minha forma de ver a Educação.
Vamos então falar do tão especulado "ranking": Começo por dizer que ele trás dentro de si logo uma enorme falsidade, já que aqueles colégios privados que aparecem nos primeiros lugares levam todos menos de 100 alunos a exame, sendo que se apenas forem considerados os colégios que levam mais de 100 alunos, aí o Ensino Público aparece claramente melhor que o Privado. Outro facto que não deixa de ser curioso é que se está a comparar escolas onde os alunos pagam 1000 euros de propinas mensais, com escolas onde fenómenos como a pobreza e a interioridade são marcas diárias. Que justiça tem um ranking desses?
Algumas das notícias mais "chocantes" sobre o já citado "ranking" referiam a má prestação dos distritos de Portalegre e Bragança. Estamos a falar de dois distritos marcados pela exclusão, interioridade extrema e pela pobreza. Será justo comparar essas escolas com os externatos/internatos só ao alcance de alguns e onde o custo por aluno seria incompatível para qualquer família da classe média/baixa ou mesmo para o Estado Português? Os partidos da direita ao fazerem esta guerra ideológica, apenas parecem interessados no facto de estarem ao lado de algumas forças poderosas do ponto de vista económico e social.
Será que alguém já pensou o que sentem os alunos e professores dessas escolas que estão nos últimos lugares? Por curiosidade nas tabelas deste ano procurei a Escola da Pampilhosa da Serra (no confins do distrito de Coimbra) e reparei que aquela que tinha sido várias vezes a última classificada de um "ranking" estúpido continuava nos últimos lugares. Como se sentem os jovens desse concelho, marcado pelo abandono e insucesso escolar, onde a interioridade, a distância e a pobreza são marcas? Como é óbvio, essas listagens apenas alargam ciclos viciosos e preocupam os pais que não podem orçamentar 1000 euros por mês (muito mais do dobro do salário mínimo) na educação dos filhos.
Dessa forma temos de salientar o trabalho do nosso Governo no Combate ao Abandono e Insucesso Escolar, criando percursos alternativos e formas de recuperar jovens para quem a escola tinha deixado de fazer parte da solução e sim do problema. Não deixa de ser elucidativo o facto de pela primeira vez em muitos anos e mesmo apesar da quebra demográfica o número de alunos na escola ter subido. É um claro sinal que este é o caminho da luta contra um dos maiores flagelos da nossa sociedade.
A Educação é muitas vezes uma arma de lançar o pânico e a "Guerra Ideológica" pela direita, como é de fácil exemplo o cinismo que existe no PSD-PP nas questões da Educação Sexual. Esses dois partidos esquecem pela sua ideologia que Portugal tem uma incidência "vergonhosa" de gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis nos menores de 18 anos. Mas o que interessa isso à nossa direita? Nada! Deseja apenas uma guerra sem quartel e onde a realidade é confundida com populismo e demagogia.
Acredito que estejamos no princípio de um caminho rumo a uma escola mais justa, mas isso só poderá ser conseguido através de uma Escola Pública e para todos e não somente para alguns que podem pagar.