domingo, outubro 17, 2004

A inquietação, o medo, a pergunta.

Há uma aragem que passa por Tomar, uma brisa que agita as mentes e os corpos, cada vez mais forte, como um vento leve que breve traz a tempestade. Corre um sussurro, às vezes um trovão, na cidade, no concelho, uma pergunta repetida ecoa por ruas e caminhos, casas e comércios. Essa inquietação atravessa idades, profissões, classes sociais, e ideologias políticas. Da esquerda à direita, é como uma epidemia que se alastra buscando sedenta a sua própria cura. A inquietação apoquenta, ferve nas entranhas. Uns aflitos na iminência de perder o que julgam ter, outros na esperança de mudar, outros com medo de não fazer parte dessa mudança.
E essa dorzinha que incomoda, esse novo Gral da política tomarense não é mais que uma aparentemente simples pergunta: - Quem é o candidato do PS à Câmara de Tomar?
É certo que uns perguntam para saber em quem “atirar”, conhecer o “alvo a abater”, mas é certo também, que a maioria pergunta em real anseio, em desespero alguns, esperando que esse D. Sebastião desejado apareça, e nos salve de todos os males que o Senhor das Rotundas, D. Toni da Cibernética, Paladino da Pavonice, nos tem afligido. Diga-se: não vai ser fácil, seja ele ou ela quem for, não vai ser fácil a vida pós Paiva, tal o estado calamitoso em que encontrará a Câmara.
Mas nem só por isso não vai ser fácil, não vai ser fácil sequer chegar lá.
Já todos perceberam que o ciclo político desta equipa autárquica (que todos também sabem que não é equipa), chegou ao fim e que dificilmente já algo de bom poderão fazer por Tomar e pelos tomarenses, e que ainda que o fizessem, dificilmente compensaria tudo o que de mau já fabricaram.
E por isso a ânsia de mudar é grande, sente-se nos jovens, sente-se nos comerciantes, nos funcionários da autarquia, nos operários, nos construtores, sente-se em todos os que perderam o emprego, em todos os que vêm os seus negócios falir, as suas lojas fechar, em todos os que vão comprar casa noutros concelhos porque é mais fácil, porque é mais barato. Numa frase: Tomar parou. Ou pior, está em regressão, em especial quando nos comparamos com concelhos vizinhos que há uns anos atrás eram pouco ao pé de nós.
Dir-se-ia: bem, o senhor António Paiva e o PSD não têm qualquer hipótese. Mas as coisas não são assim tão simples, nunca são. A par com desejo de mudança, há sempre o medo da mesma.
E agora, bom, agora, mais que antes, vai começar, já começou, a propaganda, a campanha, a teatrice, o despejar de sorrisos na rua e nos jornais, a obra acabada à pressa para se mostrar, a obra inútil mas engraçada. Sejam passadeiras elevadas, ou arranjos de cimento e alcatrão; a promessa de obras, o alimentar de sonhos, de projectos e grandes concretizações que não fizeram em dois mandatos (oito anos!), mas que agora sim, agora é que vão conseguir realizar. Estes senhores não estão no fundo longe do que se passa a nível nacional, nem poderiam, se temos cá o secretário geral do PSD não é? E que extraordinárias coisas já conseguiu para Tomar...
Tudo faz parte do jogo, e não me levem a mal a expressão, é que tudo na vida é um jogo. Assim mesmo a política, é jogo que se ganha quando se faz acreditar que as nossas ideias são mais correctas que as de outros, e isso está certo, quando se joga limpo, segundo as regras. E a regra primordial na política é: agir em função daquilo que são os interesses dos outros, dos cidadãos, daqueles que delegam o seu poder, para que outros executem segundo os interesses desses mesmos cidadãos. Infelizmente, no país, e em Tomar, nem sempre tem sido assim, os casos do Parque de Campismo e do estacionamento tarifado são exemplos mais que flagrantes.
E é resposta a tudo isto que o PS deve dar, uma alternativa credível, coerente, competente, responsável. E para personalizar essas características, essa vontade, essa mudança, os militantes do PS saberão encontrar a melhor escolha. Mas peço-vos caros concidadãos, não embarquemos na fulanização tão recorrente na sociedade mediática em que vivemos, o PS e Tomar não precisam apenas de um rosto, uma cara fotogénica que convença o eleitorado pelo seu alvo sorriso e o cumprimento fácil a quem vai encontrando na rua. Isso, já temos. E a salvação de Tomar deste rumo que leva, não se poderá centrar numa só pessoa. Isso, também já temos.
Aquilo em que o PS precisa de se centrar, e para isso na devida altura pedirá apoio a todos os tomarenses, é não só em encontrar um líder para a autarquia, um líder forte, competente, que saiba ouvir e agir em conformidade, mas também uma equipa, coesa, uma equipa, em que pelas qualidades de qualquer dos seus membros, qualquer um pudesse ser Presidente. E as qualidades desta equipa não podem ficar-se pela Câmara. Na competência e unidade desta equipa, deverão constar também a Assembleia Municipal e as Juntas de Freguesia. Assim sim, teremos força para poder mudar, força para pôr a descoberto aquilo que se vai escondendo, força para realmente, e não apenas na fachada, dar um futuro a Tomar e aos tomarenses.
O que pode ser pedido é: saibam, queiram acreditar. As pessoas a seu tempo aparecerão, mas mais que às pessoas, atentem nas ideias, atentem nos projectos, e por favor, não tenham medo da mudança, acreditem na inovação, acreditem em algo novo e em novas pessoas e não se deixem levar nem pela foto mais bonita, nem por vãs promessas de outros parques temáticos, porque isso, também já temos.

Hugo Cristóvão
artigo publicado no jornal Cidade de Tomar de 15.10.04