segunda-feira, outubro 11, 2004

Política Desportiva para Tomar

Como é do conhecimento geral, o desporto é hoje em dia um importante vector de desenvolvimento regional, já que permite uma melhor qualidade de vida e quando na sua vertente de competição, permite uma melhor publicitação da proveniência dos atletas, do que qualquer folhetim turístico de qualidade muito duvidosa. Para Tomar, cidade turística por excelência, a evolução desportiva aparece como um desafio para o futuro, que está constantemente a ser posto em causa.
A Câmara tem a este respeito, como em muitos outros uma política que vai da megalomania ao nada, passando obviamente pelo rídiculo. Quando se exigia uma aposta mais contínua na formação desportiva é construído um hiper pavilhão, que obviamente pode ser importante, mas não vai dar resposta às necessidades dos jovens e das freguesias. No caso do pavilhão mais que lamentar a sua construção, deve-se perceber, que aquela foi uma má opção a nível de localização, mostrando uma falta clara na qualidade do planeamento urbano. Já ao nível de enquadramento ambiental, dever-se-ia ter optado por outro lugar e o antigo pavilhão podia continuar como apoio às escolas e colectividades.
No campo do rídiculo, encontra-se a destruição do relvado de boa qualidade do Municipal 25 de Abril, para ser substituído por um campo sintético. Os campos sintéticos, como todos os conhecedores da matéria concordam, prejudicam a qualidade do desporto praticado, sendo um claro retrocesso para a qualidade do relvado que já existia. Eu compreendo que o União de Tomar não está nos tempos áureos do passado, mas com estas condições a possibilidade de recuperação é ainda mais reduzida. Paralelamente, Tomar nos últimos anos recebeu jogos internacionais das camadas jovens de futebol, cenário que com o sintético parece ficar para sempre destruído. E os árbitros, que habitualmente escolhem Tomar (com claros ganhos para a cidade), como local de estágio, com o campo sintético não devem estar interessados em voltar. Porque não construir sim campos sintéticos nas freguesias? As freguesias rurais agradeceriam muito, e colectividades como a Linhaceira mereciam essa atenção, mas este executivo camarário pensa que o desporto só interessa para a população urbana. Já agora, seja-me permitido dar uma ideia à câmara: se ela insistir num campo sintético, criar-se uma equipa de Hóquei em Campo, modalidade Olímpica que habitualmente se pratica em sintético, já que o desporto não é só futebol.
Em relação aos nossos clubes e colectividades, a situação é muito complicada para a maioria. O União de Tomar, talvez o maior expoente desportivo da cidade e do distrito, ou não fosse um dos poucos clubes do distrito de Santarém que já actuou na principal divisão do futebol nacional, tendo sido mesmo paragem por alguns meses de Eusébio, é das dificuldades atravessadas um bom exemplo. O União atravessa uma crise grave, sendo necessário um maior apoio camarário (Obviamente, que não me estou a referir às ligações perigosas entre futebol e política) e da cidade em geral, com vista a voltar aos resultados do passado, com contribuições de publicidade assinalável para a cidade.
Mas o apoio tem de ser dado não só ao União, já que o Sporting de Tomar (clube histórico, no Hóquei em Patins) e outras colectividades de menor dimensão vivem igualmente problemas de difícil resolução. Tem de existir um claro apoio às modalidades, nas freguesias rurais e os sucessos desportivos do Santa Cita, Linhaceira, entre outros, devem fazer pensar a Câmara num maior apoio às colectividades rurais.
Mas, mesmo que não pareça o desporto e em Tomar, não é só futebol e hóquei em patins (modalidade que conta com 3 equipas no concelho), e os recentes resultados de atletas tomarenses (mesmo que já não representem clubes do concelho) de outras modalidades, onde o destaque vai obviamente para o Nuno Merino nos Jogos Olímpicos, mas também para outros atletas, no judo, trampolins, ciclismo, entre outros desportos que conseguem resultados de âmbito nacional, ou mesmo internacional.
E se algumas colectividades têm o valor de apostar nessas modalidades, os jovens do concelho estão impedidos ainda assim de praticar em Tomar desportos tão importantes como o Atletismo, Andebol, Basquetebol, Voleibol, Ciclismo, Remo, Triatlo entre outras. Não seria normal a Câmara apostar na prática dessas modalidades, proporcionando condições financeiras e materiais, para existência dessas modalidades que tantos jovens gostariam de poder praticar?
Tomar só teria a ganhar com outra política desportiva, que proporcionasse a todos os Tomarenses as condições para a prática saudável do desporto de lazer, e ao mesmo tempo apostasse no turismo desportivo e de aventura como vector que conseguisse arrastar e fazer chegar à cidade, turistas que habitualmente estavam afastados deste destino. Ao mesmo tempo uma política de desporto para todos, começando logo no apoio ao desporto nas escolas, ajudava muitos jovens a não entrar por caminhos sinuosos e a integrar os jovens vindos de meios socioeconómicos mais complicados, sendo o desporto um claro complemento à muitas vezes complicada tarefa do ensino.
Neste como em muitos outros temas a falta de visão tem sido a regra a nível de política camarária, mas não podemos esmorecer. A necessidade de outra política desportiva tem de partir de todos os Tomarenses, já que muitas vezes este tema é injustamente negligenciado e excluído das políticas públicas. Não nos podemos esquecer que o desporto dá melhor qualidade de vida, ajuda à integração dos jovens, e que tem uma capacidade futura de crescimento turístico assinalável.

Hugo Costa
artigo publicado no jornal Cidade de Tomar de 1.10.2004